Biografía de Mc Perlla
Segundo álbum da cantora, ícone do funk melody, traz os hits ‘Carrapato’ e ‘Depois do Amor’, esta com participação de Belo, além de ‘Azul’, de Djavan
No mundo funk carioca -a expressão é do antropólogo Hermano Vianna - não há espaço somente para popozudas e preparadas. Vertente romântica do estilo, o funk melody prova ser possível conciliar suavidade com o batidão que veio dos morros e arrebatou também a classe média, digamos mais arejada, que incorporou o estilo a partir do início do século XXI.
Perla da Silva Fernandes era uma garota que amava DJ Marlboro e Claudinho & Buchecha, no bairro carioca de Brás de Pina. A musicalidade vinha da infância, desde os tempos em que cantava numa igreja evangélica no subúrbio do Rio. Dos hinos de louvor, passou a adorar as freqüências pop do rádio. Escutou Mariah Carey, Baby Face, Jorge Vercilo, Gustavo Lins, e viu sua identidade musical formar-se entre o romantismo e o beat acelerado das pistas.
Aos 15 anos, conheceu DJ Mãozinha e Umberto Tavares, que se tornaram seus produtores e passaram a compor especialmente para ela. Pouco depois, uma fita com gravações de Perlla (àquela altura ela já havia dobrado o L da grafia original de seu nome) foi parar nas poderosas mãos de um de seus ídolos: o DJ Marlboro em carne, osso e pick ups. “Tremendo vacilão” tomou os dials e as pistas de todo o Brasil. A adolescente de apenas 17 anos arrombava a festa funk com seu primeiro álbum, “Eu só quero ser livre”, lançado em 2006, pela Deckdisc.
“Mais perto” é o segundo disco de cantora, também produzido por Mãozinha e Umberto, com direção geral de Marlboro. Como o próprio título sugere, o álbum fala de intimidade e aconchego - e também de abandonos e descompassos amorosos - com a espontaneidade que molda o carisma e a presença de Perlla. O trabalho atesta a maturidade atingida em pouco mais de um ano (!) de carreira fonográfica, sem perder as características que fizeram de seu dèbut um sucesso nacional: as programações e grooves bem tramados, as letras diretas afirmativas da condição desapegada das meninas do funk, a voz que equilibra doçura e imponência, com sabor de juventude e desprendimento.
É claro que a vida mudou neste tempo. Perlla trocou a casa dos pais por um apartamento na Barra da Tijuca, protagonizou uma campanha de prevenção à gravidez adolescente, estampou páginas de revistas, jornais e demais periódicos em todo o país. Sem acomodações com o sucesso, aprimorou-se artisticamente a ponto de arriscar-se numa intrincada canção de Djavan - “Azul”, lançada por Gal Costa nos anos 80 – para provar que estilos sofisticados podem adequar-se ao techno-naturalismo funk.
Boa parte destas mudanças está refletida no disco. Se “Carrapato” dá continuidade à saga de “Tremendo Vacilão”, desmoralizando a empáfia machista (Feito um carrapato / você quer me acompanhar / pensa que tem papo / mas é ruim de eu te escutar / sai garoto chato / que eu não quero te pegar), há canções que indicam direções mais amplas.
Da renúncia consciente de “Sozinha” (Eu preciso ficar sozinha / eu quero me encontrar) à esperança resoluta de “Tanta solidão” (Tanta indecisão no instante / quem se garante? / essa eu vou pagar pra ver”), passando pela convicção de “Beijo de despedida” (Chegou a hora de dizer / se rola compromisso / não quero mais indecisão / melhor parar com isso / comigo não), Perlla está mais perto do coração.
O universo teen, como não podia deixar de ser, mantém-se na ordem do dia. “Pode deletar” fala do amor nos tempos virtuais com expressões típicas da pós-modernidade cibernética: “Só com GPS pra te encontrar / fui no teu Orkut te fiscalizar / tô no MSN pra te adicionar”. “Menina chapa-quente” afirma a ética categórica da moça que recusa os galanteios do rapaz comprometido: “Não vou cair no teu caô / tu é conquistador / tem compromisso e quer azaração”.
“Beijo de despedida” pode ser interpretado como referência ao rótulo de patricinha do funk que alguns quiseram pespegar na cantora. Em recado que pode servir de carapuça aos desavisados críticos das expressões que traduzem em ritmo e melodia o idioma das ruas, a letra dispara: “vive dizendo que eu sou patricinha / mas quando eu chego sempre perde a linha / fazendo tipo, finge que não tá me olhando / mas quando eu danço fica me sacando”.
A cantora co-assina - com Umberto Tavares, Cacá Nunes e Bruno Montes – duas das 14 faixas do álbum: “Beijo de despedida” e “Não vai dar”. De bônus, a versão remix (temperada pelo DJ Batutinha) de “Menina chapa-quente” e o hit “Depois do amor”, estourado nas FMs, em dueto com Belo.
Se inadvertidamente este disco grudar feito carrapato em seus ouvidos, deixe-o chegar junto. Perlla está mais perto do que você imagina.
Fuente: j-mmi a través de Musica.com